Regressei há dias ao renovado cinema Trindade, que reabriu as portas recentemente após ter permanecido encerrado durante 16 longos anos, para ver o documentário "Olho Nu" do cineasta brasileiro Joel Pizzini, um filme que retrata a vida do Ney Matogrosso a partir de um conjunto de imagens e sons que o artista mantinha em casa.
Gosto do Ney, sempre gostei.
Lembro-me bem de como, em pequenita, via como o Ney, na televisão, com as suas plumas e meio despido, conseguia interromper o jantar de quinze pessoas, em casa da minha Avó. Era como que se aquele bater de ancas tivesse a capacidade imediata de fazer parar o bater de talheres. Tirando o António Variações, com o seu guarda-roupa e coreografias, igualmente originais, não me recordo de outro alguém, para além destes dois, que conseguisse a proeza de suspender a conversa e a desgustação dos croquetes que a empregada da minha Avó, a nossa Maria José, tão bem fazia.
Gosto do Ney e não é só à conta da sua voz e das canções que ele canta. Gosto dele porque lhe reconheço o dom de, uma vez no palco, representar uma personagem que é, tão só, uma exacerbação de si próprio. Porque lhe reconheço o dom de depois, já fora do palco, conseguir tirar a máscara que lhe amplifica desmesuradamente as particularidades que o tornam único para voltar a ser ele próprio, de novo. Normal. Vulgar. Comum. Gosto dele porque não conheço outro artista que, cantando e dançando, faça isto tão bem, sem tentar parecer mais, ou ficar aquém, do que realmente é. Ney representa-se a si próprio, seguindo fielmente o guião da sua identidade, e isso é notável. Por isso gosto dele.
No documentário, o Ney diz-se “subversivo” até aos ossos. Foi perseguido e alvo da censura, como quase todos os músicos geniais da sua geração, pelo regime ditatorial que se instalou no Brasil na década de 60. E apesar disso, a mensagem que fica é que, no final, o que importa é ser feliz. “O que importa, é não estar vencido”.
E assim vos desejo, um bom 25 de abril.
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Gosto do Ney, sempre gostei.
Lembro-me bem de como, em pequenita, via como o Ney, na televisão, com as suas plumas e meio despido, conseguia interromper o jantar de quinze pessoas, em casa da minha Avó. Era como que se aquele bater de ancas tivesse a capacidade imediata de fazer parar o bater de talheres. Tirando o António Variações, com o seu guarda-roupa e coreografias, igualmente originais, não me recordo de outro alguém, para além destes dois, que conseguisse a proeza de suspender a conversa e a desgustação dos croquetes que a empregada da minha Avó, a nossa Maria José, tão bem fazia.
Gosto do Ney e não é só à conta da sua voz e das canções que ele canta. Gosto dele porque lhe reconheço o dom de, uma vez no palco, representar uma personagem que é, tão só, uma exacerbação de si próprio. Porque lhe reconheço o dom de depois, já fora do palco, conseguir tirar a máscara que lhe amplifica desmesuradamente as particularidades que o tornam único para voltar a ser ele próprio, de novo. Normal. Vulgar. Comum. Gosto dele porque não conheço outro artista que, cantando e dançando, faça isto tão bem, sem tentar parecer mais, ou ficar aquém, do que realmente é. Ney representa-se a si próprio, seguindo fielmente o guião da sua identidade, e isso é notável. Por isso gosto dele.
No documentário, o Ney diz-se “subversivo” até aos ossos. Foi perseguido e alvo da censura, como quase todos os músicos geniais da sua geração, pelo regime ditatorial que se instalou no Brasil na década de 60. E apesar disso, a mensagem que fica é que, no final, o que importa é ser feliz. “O que importa, é não estar vencido”.
E assim vos desejo, um bom 25 de abril.
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