"O menino que carregava água na peneira"

Li há umas semanas um poema do brasileiro Manoel Barros que falava num menino que tinha a estranha mania de carregar água numa peneira.

A certa altura, dizia assim:

(...)

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

(...)

7 anos.

Há 7 anos que me levas pela mão num passeio pelo imaginário. Que insistes em arrancar-me as raízes do chão e me empurras, com doçura, para um lugar onde, ao invés de terra, sinto ar sob o meus pés.

Nesse lugar mágico moram dragões com línguas de fogo e caudas em serpentina. Dezenas de super-heróis com poderes incríveis e quase tão feios e verdes como o Mestre Yoda. Pinguins e ursos brancos num improvável ecossistema de um mesmo círculo polar. E agora que já escreves... dá-lhes nomes e constróis diálogos que flutuam no papel, em balões de fala.

Dou folga às minhas amarras e esforço-me por flutuar também, rumo ao teu maravilhoso “despropósito”.

Inspiro. Expiro.

Sobrevoo.

É que apesar das vertigens próprias de mãe, contigo aprendi a manter os pulmões insuflados de amor.

Parabéns meu amor grande!








Numa tarde de junho, no jardim Botânico do Porto.

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