“A morte que trazemos no coração”

Quando decidi escrevinhar aqui estas notas, tinha em mim a certeza de que este blog só traduziria os momentos e pensamentos felizes da minha vida comum. Reflito melhor e concluo agora que, a ser assim, este não seria um blog autêntico, feito da minha carne e do meu osso. Fosse assim e estas seriam notas sem nome nem rosto, escritas por qualquer alminha, quiça penada, igual a tantas que pressinto vaguear pelos mundos, real e virtual. Pois alma por alma, então que aqui se trate da minha.

Na verdade, esta tem sido uma semana infeliz.

Perdi, no trabalho, a companhia de uma amiga que tinha a particularidade de ser, também, colega. Irremediavelmente mais triste do que isso, como só a morte pode ser (o cúmulo do que é irremediável e triste), perdi, perdemos, a querida M.. Feito o balanço, se porventura ganhei algo, foram umas quantas novas rugas de expressão.

Por coincidência ou não, li na véspera de tua morte, querida M., uma crónica do José Luís Nunes Martins que afirmava trazermos a morte no coração: “É no coração que morremos. É aí que a morte habita”.

Pois não acho que haja mais, ou outra, verdade. É por morares no meu coração, querida M., que sinto a tua morte. Contraponho porém que é precisamente por isso, por aí morares e há tantos anos, que te sinto, querida M., tão viva e tão presente.

Para terminar, uma reflexão de consolo (meu e dos que me são próximos) que encontrei na mesma crónica:

“Devemos cuidar de todos os que amamos. Aos que partiram, porém, aquilo que lhes podemos dar é o amor àqueles que ficaram cá. Porque estes continuam a precisar de nós, do melhor de nós… e é sempre uma iniquidade quando um amor por quem partiu mata, em alguém, o amor por aqueles que ainda cá estão.”

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