Nem sempre é assim, mas este ano as férias grandes foram generosas comigo. Deram-me tempo. Tempo de sobra. Para não fazer coisa alguma. Que não fosse passear-me ao sol, trajando fato de banho e chinelos. Ser despreocupada, maltrapilha e descabelada. Sem saber sequer porque diabo meti eu na minha mala tanta roupa e um secador de cabelo, quando só precisava de um creme para nutrir a pele feita hirta pela areia e pelo sal. E vá, de um ganchinho para prender os caracóis tortos e ressequidos.
Tempo para despertar cedo com as conversas ruidosas dos rapazes. Para ir e vir da praia, a pé, sem pressas, com os miúdos pela mão. Para me alimentar às quatro da tarde dos figos doces que todos os dias colhíamos da árvore que havia na casa onde pernoitámos. Para me alimentar a qualquer hora dos mimos dos meus amores, grandes e pequenos, mas todos maiores, que me caiam maduros no colo a todo o instante. Tempo para me besuntar de argila na praia sem medo de parecer ridícula. Enquanto via em mim crescer a vontade de me livrar dela com um enorme mergulho no mar. Para ver como crescem tão amigos e felizes. Os cinco. Para reconhecer como, apesar de já crescidas, nos mantemos amigas e felizes. As duas.
Tempo de sobra também para projetar e arquitetar.
Não só castelos na areia.
Mas também, quem sabe?... outras moradas.
Tempo de sobra também para projetar e arquitetar.
Não só castelos na areia.
Mas também, quem sabe?... outras moradas.
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