Importa-me

A World Press Photo anunciou ontem a fotografia do ano.

De entre 80 mil fotos, foi distinguida uma fotografia que retrata a expressão de ódio de um assassino instantes após ter perpetrado o crime de homicídio. Podia ser a foto de um violador, após o ato de violação. Ou a foto de um pedófilo, após o abuso. Ou até quem sabe, a foto de um carrasco com a cabeça decapitada, intacta e quente, ainda magnificamente penteada, a rolar-lhe sobre os sapatos engraxados. Mas não. A foto premiada foi aquela. Talvez porque as outras que enumerei não estivessem a concurso, não sei.

Pouco me importa se a fotografia resulta do instante efémero de um equívoco. Ou se resulta da coragem de quem, após ter compreendido o acontecimento, ousou disparar perante a incerteza de um outro disparo, porventura ainda mais certeiro porque mortal. Pouco me importa também que a fotografia conte uma história, do princípio até ao fim, com uma precisão que, de tão balística, se confunde com a da da arma do crime. Porque haveria de importar? O jornalismo de hoje nem sequer sabe o que isso é.

Importa-me sim que se explorem, deste modo, histórias horrendas como esta.

E sobretudo importa-me que se premeie, seja de que modo for, o seu horror.



Outra das fotos premiadas, esta de Jonathan Bachman.

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